Título original: L'élégance du hérisson
Autor: Muriel Barbery
Tradutor: Maria Jorge Vilar de Figueiredo
Editor: Editorial Presença
Edição/reimpressão: Dezembro de 2008
ISBN: 9789722340519
Páginas: 280
Sinopse: Este romance contado a
duas vozes alternadas decorre num edifício situado num bairro rico de Paris e habitado por uma
burguesia rica e snobe. Renée é uma porteira de 54
anos, cultíssima, autodidacta e apaixonada pela pintura naturalista
holandesa, pela filosofia, por Tolstoi, pelo cinema japonês e uma devoradora de
livros. Porém esconde-se por detrás da figura humilde que todos esperam ver numa porteira e fá-lo com um humorismo que tem o seu quê de satírico. Paloma é uma adolescente superdotada de 12 anos, intensamente consciente da vacuidade do destino que a espera. Também ela se esforça por esconder a sua inteligência e o olhar crítico e lúcido que tem sobre o mundo e sobre a elite a que pertence. Esta jovem tem um objectivo: suicidar-se no dia em que completar treze anos. Tudo isso mudará com a chegada de um japonês, o senhor Ozu, que depressa desmascara Renée e integra Paloma num pequeno trio que terá para todos um papel redentor.
A minha opinião: Este pequeno livro é uma absoluta delícia! Foi recomendado por uma colega da Comunidade de Leitores, por isso as expectativas eram elevadas, mas felizmente, foram superadas!
A história centra-se nos moradores do nº 7 da Rue de Grenelle, um edifício duma zona chique de Paris, e é-nos contado do ponto de vista de Renée, a porteira do prédio, e Paloma, uma jovem de 12 anos moradora do prédio. Ambas são muito mais do que aquilo que aparentam e as suas descrições e análises dos moradores do prédio e da sociedade em geral são, simultaneamente, acutilantes e hilariantes.
Renée tem 54 anos e toda a vida fingiu ser apenas aquilo que esperam que seja. Presentemente, isso significa fingir ser apenas a simplória porteira. Na verdade, ela é uma mulher culta, interessante e interessada, que lê tratados de filosofia, ouve música clássica, vê filmes japoneses e conhece a pintura holandesa.
Paloma tem 12 anos e finge ser uma miúda normal, quando na verdade é sobredotada. Dolorosamente consciente das contradições e injustiças do mundo. E, reconhecendo-as na sua própria família, está determinada a atear fogo ao apartamento e suicidar-se no dia do seu 13º aniversário. Para os outros parece uma miúda estranha, e nem a família a compreende, mas na realidade é apenas uma miúda extremamente inteligente, observadora e introvertida.
A vida no prédio é subitamente alterada com a chegada do novo inquilino, o senhor Ozu. Para começar, o senhor Ozu não liga nenhuma à hierarquia vigente e não passa cartão aos vizinhos. Mas depressa se apercebe da realidade em relação a Renée e a Paloma e inicia-se uma amizade entre os três que os mudará para sempre.
É uma história que alerta para o perigo dos estereótipos, de como por vezes temos tendência a catalogar as pessoas de acordo com as suas funções, ou com a sua idade ou com as expectativas que temos delas, e de como, ao fazê-lo, podemos acabar por perder a oportunidade de conhecer e interagir com pessoas fantásticas e com as quais podemos aprender tanto...
Adorei esta história e eu que até nem sou muito de apontar citações, apontei imensas. A escrita da autora é belíssima e a sua análise da sociedade francesa, efectuada através dos pontos de vista de Renée e Paloma é bastante acutilante. E a caracterização de Manuela, a mulher-a-dias portuguesa é fantástica!
Gostava muito de ler outras obras da autora, mas infelizmente não há mais nenhuma traduzida para português...
Classificação: 5
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