Título original: Das Parfum: Die Geschichte eines Mörders
Autor: Patrick Süskind
Tradutor: Maria Emília Ferros Moura
Colecção: Grandes Narrativas nº 12
Editor: Editorial Presença
Edição/reimpressão: Abril de 2007
ISBN: 9789722314480
Páginas: 276
Sinopse: Esta estranha história
passa-se no século XVIII e é fruto de um extraordinário trabalho de
reconstituição histórica que consegue captar plenamente os ambientes da
época tal como as mentalidades. O protagonista é um artesão
especializado no ofício de perfumista, e essa arte constitui para ele –
nascido no meio dos nauseabundos odores de um mercado de rua – uma
alquímica busca do Absoluto. O perfume supremo será para ele uma forma
de alcançar o Belo e, nessa demanda nada o detém, nem mesmo os crimes
mais hediondos, que fazem dele um ser monstruoso aos nossos olhos.
Jean-Baptiste Grenouille possui no entanto uma incorrupta pureza que
exerce um forte fascínio sobre o leitor. O Perfume, publicado em 1985,
de um autor então quase desconhecido, foi considerado um dos mais
importantes romances da década e nunca mais deixou de ser reeditado
desde então, totalizando os 4 milhões de exemplares vendidos, só na
Alemanha, e 15 milhões em países estrangeiros. Foi traduzido em 42
línguas. Este fenómeno transformou-o num dos mais importantes livros de
culto de sempre. Em 2006, O Perfume passa a ser uma longa-metragem
inspirada no romance de Patrick Süskind.
A minha opinião: Esta leitura foi o perfeito exemplo do perigo das expectativas... É que eu tinha muitas em relação a este livro, mas estas não se cumpriram. É que a história que eu tinha idealizado não correspondeu à história do livro, e não pude deixar de me sentir um pouquinho desiludida. E sim, eu sei que a culpa é inteiramente minha, mas não posso fazer nada para mudar isso...
Acho que a melhor forma de falar sobre o livro é comentando cada uma das quatro partes em que se divide. A primeira foi a minha favorita, posso mesmo afirmar que estava a adorar conhecer o protagonista, Grenouille, uma criatura repugnante, altamente manipuladora, com um sentido de olfacto apuradíssimo, assim como apurado é o seu instinto de sobrevivência que faz com que se adapte aquilo que dele é esperado na altura. O pormenor do rasto de morte que o segue sempre que alguém deixa de lhe ser útil (sempre nas situações mais caricatas, mas sem que tenha tido qualquer participação directa nas mortes) é fantástico, e a forma como explora a cidade de Paris através do seu olfacto é tão perturbadora quanto maravilhosa (como devem imaginar, Paris no século XVIII não cheirava propriamente a rosas...). E depois há a descoberta d'O Perfume, que é emanado por uma jovem ruiva e cuja busca e posse passa a ser o seu objectivo de vida. Claro que, sendo ele uma criatura perfeitamente amoral, recorrer ao homicídio para atingir esse objectivo nem sequer o faz pensar duas vezes...
E a primeira coisa a fazer, na perseguição da sua demanda, é aprender a arte da extracção de perfumes, o que consegue tornando-se aprendiz de um famoso perfumista parisiense. A primeira parte da história termina quando Grenouille parte para Grasse com o objectivo de aprender outras formas de extracção de perfumes. E até aqui estava mesmo a adorar, mas eis que começa a segunda parte e parece que estou a ler um livro completamente diferente... É que, à medida que se afasta de Paris e se embrenha no campo, começa a experienciar a ausência dos cheiros humanos e acaba a viver sete anos numa montanha, isolado de tudo e de todos, a alimentar-se de répteis e a lamber água de uma rocha. E foi aqui que a história se perdeu para mim... Não consegui perceber o porquê desta interrupção, nem das revelações que teve, até porque a sua missão já estava definida. A sério, nada contra histórias com experiências de isolamento, em que os personagens se redefinem e voltam a encontrar um propósito na vida, mas não achei que, nesta história em concreto, fosse necessário. E teve o condão de me ter irritado de tal forma, que já não consegui "reentrar" na história de forma satisfatória...
Ora bem, depois desta pausa de sete anos (completamente desnecessária, na minha humilde opinião...), o que é que o protagonista faz? Retoma o objectivo que tinha quando saiu de Paris, tornar-se aprendiz em Grasse (estão a ver porque é que digo que a pausa foi desnecessária?) e aí aprender a extrair os perfumes mais delicados. E é também aí que volta a sentir O Perfume, o que o leva a cometer uma série de assassinatos, nos quais extrai a essência dos cadáveres de jovens mulheres, por forma a conseguir possuí-lo finalmente. Também nesta parte fiquei um pouquinho desapontada, pois gostaria que os assassinatos e o ritual da extracção do perfume tivessem sido descritos com mais pormenor, mas, na maioria dos casos, o autor limita-se a referir que mais uma rapariga apareceu morta...
Em jeito de conclusão, adorei a primeira parte, todas as descrições dos cheiros e dos perfumes são deliciosas (mesmo quando descrevem cheiros nauseabundos), adorei a ideia da demanda pela posse d'O Perfume, mas achei a segunda parte completamente desnecessária, e gostava que tivesse havido mais pormenor na descrição das mortes. Quando a história finalmente retoma o rumo, já não me entusiasmou da mesma forma, apesar de ter gostado também do final.
Classificação: 3
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