Autor: José Saramago
Editor: Editorial Caminho
Edição/reimpressão: Agosto de 2008
ISBN: 9789722110211
Páginas: 312
Sinopse: Uma cidade é devastada por uma epidemia instantânea de "cegueira
branca". Face a este surto misterioso, os primeiros indivíduos a serem
infectados são colocados pelas autoridades governamentais em quarentena,
num hospital abandonado. Cada dia que passa aparecem mais pacientes, e
esta recém-criada "sociedade de cegos" entra em colapso. Tudo piora
quando um grupo de criminosos, mais poderoso fisicamente, se sobrepõe
aos fracos, racionando-lhes a comida e cometendo actos horríveis. Há,
porém, uma testemunha ocular a este pesadelo: uma mulher, cuja visão não
foi afectada por esta praga, que acompanha o seu marido cego para o
asilo. Ali, mantendo o seu segredo, ela guia sete desconhecidos que se
tornam, na sua essência, numa família. Ela leva-os para fora da
quarentena em direcção às ruas deprimentes da cidade, que viram todos os
vestígios de uma civilização entrar em colapso. A viagem destes é plena
de perigos, mas a mulher guia-os numa luta contra os piores desejos e
fraquezas da raça humana, abrindo-lhes a porta para um novo mundo de
esperança, onde a sua sobrevivência e redenção final reflectem a
tenacidade do espírito humano. (daqui)
A minha opinião: Apesar de ter ido a correr comprar o livro depois de ter visto o filme, acabei por adiar a sua leitura, por um lado porque, como já sabia a história, tive medo de arrastar a leitura e, por outro, porque já sabia que a história era pesada...
Mas a verdade é que, apesar de a história ser pesada e de já a conhecer (porque o filme está muito fiel ao livro), a leitura foi fluída e compulsiva do início ao fim. E confirmou aquilo de que já desconfiava: gosto muito da escrita de Saramago. Só tenho pena de não o ter "descoberto" mais cedo...
Em Ensaio sobre a Cegueira, Saramago cria um cenário apocalíptico, resultante de um súbito e inexplicável surto de cegueira que eventualmente afecta toda a população. Os cegos são rapidamente isolados do resto da população e votados a um quase total abandono e, embora de início sejam capazes de manter uma espécie de sociedade semi-organizada, quando é atingida a sobrepopulação, instala-se o caos, agravado pela constituição de um gangue de criminosos organizados que obrigam os restantes cegos a actos abomináveis, fazendo-os trocar a sua dignidade por comida. Quando a precária sociedade dos cegos internados colapsa, estes partem e percebem que não resta mais ninguém que veja.
Na verdade há uma pessoa que vê, que nunca perdeu a visão, a mulher do médico. E é ela que irá guiar um grupo de sete pessoas pelas ruas em busca de abrigo e comida. Mas como ela própria constata várias vezes, tanto enquanto estava internada, como depois livre nas ruas, o ditado "em terra de cegos, quem tem olho é rei" não é tão verdadeiro quanto isso... Porque ser a única que vê quando todos os outros estão cegos tanto é uma bênção como uma maldição. Ela vê o caos por todo o lado, a sujidade e a decadência e, por mais que tente ajudar, não pode arriscar anunciar a sua visão pois seria humanamente impossível a uma mulher valer a toda a população.
Gostei muito do facto do autor não ter situado a história nem espacial, nem temporalmente, o que lhe confere uma intemporalidade que a tornará sempre actual. Também as personagens nunca são nomeadas, são apenas o primeiro cego, a sua mulher, o médico, a mulher do médico, a rapariga dos óculos escuros, o velho da venda preta e o rapazinho estrábico, para referir apenas os mais importantes. Penso que todos estes pormenores acabam por realçar a possibilidade de que este cenário se poderia passar em qualquer cidade, em qualquer país, e passar-se-ia exactamente da mesma forma. E que, independentemente do desenvolvimento da sociedade e dos avanços da tecnologia, no fundo somos muito básicos e todo o nosso desenvolvimento e tecnologia são inúteis perante a falta de algo tão básico como a visão. E esse é um cenário bastante assustador, perceber como é fácil perdemos a nossa humanidade, aquilo que nos separa dos animais irracionais. Mas, ao mesmo tempo, permite-nos toda uma nova perspectiva sobre aquilo que realmente importa e sobre a importância de nos agarrarmos à nossa humanidade.
Classificação: 5Mas a verdade é que, apesar de a história ser pesada e de já a conhecer (porque o filme está muito fiel ao livro), a leitura foi fluída e compulsiva do início ao fim. E confirmou aquilo de que já desconfiava: gosto muito da escrita de Saramago. Só tenho pena de não o ter "descoberto" mais cedo...
Em Ensaio sobre a Cegueira, Saramago cria um cenário apocalíptico, resultante de um súbito e inexplicável surto de cegueira que eventualmente afecta toda a população. Os cegos são rapidamente isolados do resto da população e votados a um quase total abandono e, embora de início sejam capazes de manter uma espécie de sociedade semi-organizada, quando é atingida a sobrepopulação, instala-se o caos, agravado pela constituição de um gangue de criminosos organizados que obrigam os restantes cegos a actos abomináveis, fazendo-os trocar a sua dignidade por comida. Quando a precária sociedade dos cegos internados colapsa, estes partem e percebem que não resta mais ninguém que veja.
Na verdade há uma pessoa que vê, que nunca perdeu a visão, a mulher do médico. E é ela que irá guiar um grupo de sete pessoas pelas ruas em busca de abrigo e comida. Mas como ela própria constata várias vezes, tanto enquanto estava internada, como depois livre nas ruas, o ditado "em terra de cegos, quem tem olho é rei" não é tão verdadeiro quanto isso... Porque ser a única que vê quando todos os outros estão cegos tanto é uma bênção como uma maldição. Ela vê o caos por todo o lado, a sujidade e a decadência e, por mais que tente ajudar, não pode arriscar anunciar a sua visão pois seria humanamente impossível a uma mulher valer a toda a população.
Gostei muito do facto do autor não ter situado a história nem espacial, nem temporalmente, o que lhe confere uma intemporalidade que a tornará sempre actual. Também as personagens nunca são nomeadas, são apenas o primeiro cego, a sua mulher, o médico, a mulher do médico, a rapariga dos óculos escuros, o velho da venda preta e o rapazinho estrábico, para referir apenas os mais importantes. Penso que todos estes pormenores acabam por realçar a possibilidade de que este cenário se poderia passar em qualquer cidade, em qualquer país, e passar-se-ia exactamente da mesma forma. E que, independentemente do desenvolvimento da sociedade e dos avanços da tecnologia, no fundo somos muito básicos e todo o nosso desenvolvimento e tecnologia são inúteis perante a falta de algo tão básico como a visão. E esse é um cenário bastante assustador, perceber como é fácil perdemos a nossa humanidade, aquilo que nos separa dos animais irracionais. Mas, ao mesmo tempo, permite-nos toda uma nova perspectiva sobre aquilo que realmente importa e sobre a importância de nos agarrarmos à nossa humanidade.
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Olá. Também gostei bastante desse livro, como, aliás, habitualmente me acontece com os livros de Saramago. Ensaio sobre a Lucidez e Intermitências da Morte também me agradaram imenso, dentro deste género de ensaio, ou quase isso.
ResponderEliminarBoas leituras.