quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Opinião: "Olhos Verdes"

Autor: Luísa Costa Gomes
Colecção: Mil Folhas nº21
Editor: Público
Edição/reimpressão: Setembro de 2002
ISBN: 8496075079
Páginas: 194

Sinopse: Olhos Verdes trata da aparência e do acaso. Os seus personagens fazem parte do mundo das aparências: trabalham em profissões ou têm inclinações que implicam uma evasão da realidade: Pedro Levi é modelo de roupa interior; Eva Simeão é viciada em TV; o seu ex-marido, Paulo Mateus, deslumbrou-se com a América, que é "outro mundo"; João Baptista Daniel, perseguido por Eva mas não se interessando por esta, é director de marquetingue; Beatriz, sua mulher, é revisora gráfica ("Passa a melhor parte do seu dia a tornar mais pitoresca a realidade"); as irmãs Fonseca, Maria do Céu e Maria das Dores, oscilam entre o esteticismo e o esoterismo; Ísis, amiga de Eva, dedica-se ao disaine; Lourenço é fotógrafo; Anadir é a rainha dos jingles publicitários... Com todos eles, Luísa Costa Gomes pinta um nervoso retrato dos seres da sociedade contemporânea, que se entrecruzam casualmente e se evadem da realidade. Um longo capítulo dedicado a George Berkeley, o filósofo britânico que tentou demonstrar que a realidade material só existe na percepção que temos dela, tenta enquadrar a narrativa numa moldura teórica. Luísa Costa Gomes criou um romance dinâmico, interessante e cheio de humor, que se reflecte em muitas das suas linhas: "Tinha saudades dele a partir do metro e quarenta de distância"... "As pessoas são capazes de suportar tudo, desde que o possam suportar confortavelmente sentadas"... "O Bem vale mais que o Mal porque há de menos. É a lei da oferta e da procura."

A minha opinião: Olhos Verdes não segue uma estrutura narrativa linear. Centra-se em dois personagens predominantes, Pedro Levi e Eva Simeão, mas não se fica por estes, há toda uma série de outros personagens (uns mais secundários que outros) que vamos conhecendo à medida que se relacionam com Pedro e Eva e uns com os outros. É uma história sobre pessoas e sobre as suas complexidades. Pedro e Eva são personagens muito humanas, neuróticas e desajustadas, sempre em busca de algo inatingível, quer se trate de uma obsessão com um vizinho ou da procura de uma cura. E a obsessão com a imagem é algo que está sempre presente nas acções e pensamentos dos personagens.

Apesar da escrita fragmentada, estava a gostar do livro até chegar ao capítulo V. Até pensei que este teria sido um livro interessante para estudar nas aulas de português do secundário pois, por vezes pareceu-me adivinhar significados escondidos que seria giro analisar. Então qual é o problema? É que o capítulo V é a coisa mais surreal de sempre. Do nada, a autora resolve presentear-nos com a biografia do filósofo George Berkeley. Sim, leram bem, são 42 páginas (num livro com 194) única e exclusivamente com a biografia de uma personagem que nunca havia sido mencionada antes. Bom, mas há um motivo para isso que percebemos no capítulo seguinte, certo? Não, não há. E apesar da explicação dada na sinopse para a existência deste capítulo, a mim não me convence e continuo a achar que o mesmo é totalmente desnecessário. Com certeza haveria uma outra forma menos massuda e até mais eficaz de atingir o mesmo efeito, não?

E o pior é o que o capítulo anterior termina num cliffhanger e passei 42 páginas à espera de finalmente saber o que tinha acontecido... Eis que inicio o último capítulo e deparo-me com a descrição do Assalto ao Aeroporto. Sim, o filme com o Bruce Willis. Ah pois é, depois de uma biografia nada melhor que o argumento de um filme. o_O

Pronto se resolverem ler, não digam que não avisei e preparem-se para uma experiência verdadeiramente esquizofrénica. E estão à vontadinha para saltar o capítulo V, a não ser que apreciem biografias de filósofos do século XVIII. Depois não digam que não avisei...

 Classificação: 2

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Este livro conta para os Desafios Fall Into Reading 2012, Color Coded 2012 e Mount TBR 2012.

4 comentários:

  1. Obrigada pelo aviso. Tenho esta edição na prateleira e pelos vistos vai continuar sem sair de lá :D

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  2. Li também esse livro e tive exactamente essa sensação, pior foi que antes tinha relido o livro do Mário de Carvalho “era bom que trocássemos uma ideia sobre o assunto” (reeditado nessa colecção do público) e estava, até ao final do capítulo IV, a pô-lo ao mesmo nível. Depois, enfim, nem quis acreditar … não percebi a ideia da escritora, ficou sem imaginação para terminar o livro!? Achou que ia ficar muito curto sem aquela dissertação de 42 pág!? Aquilo seria a sua tesse de licenciatura colocada ali à força!? Enfim …

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    1. Pois, não sei, ainda não consegui encontrar ninguém que percebesse e me explicasse...

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