domingo, 1 de abril de 2012

Opinião: "A Boneca de Kokoschka"

Autor: Afonso Cruz
Editor: Quetzal
Edição/reimpressão: Outubro de 2010
ISBN: 9789725649039
Páginas: 244

Sinopse: O pintor Oskar Kokoschka estava tão apaixonado por Alma Mahler que, quando a relação acabou, mandou construir uma boneca, de tamanho real, com todos os pormenores da sua amada. A carta à fabricante de marionetas, que era acompanhada de vários desenhos com indicações para o seu fabrico, incluía quais as rugas da pele que ele achava imprescindíveis. Kokoschka, longe de esconder a sua paixão, passeava a boneca pela cidade e levava-a à ópera. Mas um dia, farto dela, partiu-lhe uma garrafa de vinho tinto na cabeça e a boneca foi para o lixo. Foi a partir daí que ela se tornou fundamental para o destino de várias pessoas que sobreviveram às quatro toneladas de bombas que caíram em Dresden durante a Segunda Guerra Mundial.

A minha opinião: Este livro também foi lido para a Comunidade de Leitores da Biblioteca Municipal, mas, ao contrário do anterior gostei bastante de A Boneca de Kokoschka.

Pela sinopse esperava algo de diferente, esperava uma história em que a vida de várias personagens fosse tocada pela boneca. Mas na verdade a boneca só surge, e brevemente, a mais de meio do livro. A experiência da guerra é o fio condutor das várias personagens que Afonso Cruz criou. Aliás, o fantasma da guerra está presente ao longo de toda a narrativa e molda o carácter e personalidade das personagens.

O livro está dividido em três partes. A primeira parte passa-se em Dresden em plena Segunda Guerra Mundial e é protagonizada por Isaac Dresner e pelo Sr. Vogel. Isaac esconde-se na cave da loja do Sr. Vogel e fala com ele, o que faz com que o Sr. Vogel pense estar a ouvir vozes que lhe chegam do chão.

A segunda parte passa-se em Paris, no pós guerra. Isaac vive com a sua mulher e com o Sr. Vogel (um pai que trata como a um filho) e tem uma pequena editora. Ouve falar de um escritor que nunca conseguiu o sucesso e, atraído pela sua história, contacta-o e mostra-se interessado em publicar um dos seus livros. É aqui que ficamos a conhecer a história da boneca de Kokoschka, mas também a história da família Varga.

Na terceira e última parte surge-nos uma nova personagem, Miro Korda, e a história passa também por Portugal. No final percebemos como todas as personagens se interligam, e na ficção tal como na realidade, percebemos como as vidas se entrelaçam e influenciam, mesmo que não nos apercebamos. E também como a história dos nossos antepassados, pais e avós, condiciona a nossa própria história.

A participação na Comunidade de Leitores tem sido uma óptima experiência a vários níveis, mas talvez um dos principais seja o facto de me permitir descobrir novos autores portugueses que me estavam a passar ao lado... Afonso Cruz é um autor que vou querer continuar a ler.

ADENDA:  Fiquei curiosa e pesquisei no Google o nome Kokoschka. Fiquei a saber que, não só o pintor Oskar Kokoschka existiu mesmo, também a sua paixão por Alma Mahler e todo o episódio da boneca são reais. Gosto quando um autor parte de um acontecimento verídico para criar uma obra de ficção e Afonso Cruz foi exímio a fazê-lo. Apesar de a boneca aparecer pouco, é crucial para a história, por motivos que não posso explicar sem cair em spoilers. Mas agora que sei que a boneca foi real, toda a história ganha uma nova dimensão para mim. Só tenho pena que o autor não indique a autenticidade deste episódio no livro, julgo que seria benéfico para o leitor.

Classificação: 4

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Este livro conta para o Desafio Spring Reading Thing 2012.

6 comentários:

  1. Quero muito ler este livro :)
    O blogue tá lindo!
    Bjs

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    1. Obrigada. Se tiveres oportunidade lê. Vale bastante a pena. Eu li o exemplar da biblioteca e tive de ir comprar um para mim... É um livro que vou reler, sem dúvida!

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  2. Parabéns e obrigado pelo seu blog.
    Só por curiosidade, queria dizer-lhe que também as músicas e o músico de que Korda fala são reais: Minor Swing e Tears (ambas de Django Reinhardt, nosso conhecido do filme de Woody Allen, Através da Noite) bem como Pat Martino (não confundir com Pat Matheny). Também isto me era desconhecido.

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    1. Obrigada.
      Desconhecia que as músicas e os músicos também eram reais (e na verdade, já não me recordo de serem mencionados...), obrigada pela informação. Terei mais atenção quando o reler, porque tenho a certeza que o irei reler...

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  3. Mais uma coincidência: tenho por amigo um sobrevivente - criança era - ao inferno que foi Dresden em 1945. Perdeu-se dos pais. Passados uns tempos acabou por ser achado e entregue por um casal que, como eles, vasculhavam na mata vizinha à Cidade o que comer.
    João Pereira da Silva
    Amarante

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    1. Bem, isso é que é um caso em que a realidade ultrapassa a ficção! Ainda bem que a história do seu amigo teve um final feliz e obrigada por a partilhar.

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